Projeto ensina boas práticas aos alunos da E.M. “Sorocaba Leste”

Por: Mariana Campos – macampos@sorocaba.sp.gov.br

Crianças estão aprendendo muito além dos conteúdos obrigatórios, com foco no Inovar, Poupar, Empreender e Humanizar

Uma escola que prepara o aluno para o presente e também para o futuro. Que além da educação formal ensina a ser inovador, a empreender, a poupar para alcançar metas e realizar sonhos e, fundamentalmente, a humanizar, refletir sobre a ética, a empatia e a solidariedade. Todo este trabalho está sendo realizado junto a aproximadamente trezentos alunos do 1º ao 5º ano da E.M. “Sorocaba Leste”, por meio do Projeto IPEH (Inovar, Poupar, Empreender e Humanizar), adotado pela unidade desde agosto de 2014 e que está gerando ótimos resultados.

De acordo com Valderez Soares, diretora da E.M. “Sorocaba Leste”, o objetivo do projeto é trabalhar habilidades e competências em sala de aula de maneira transdisciplinar, atendendo às exigências do século 21, utilizando atividades lúdicas diversificadas e contextualizadas nos quatro eixos: Inovar, Poupar, Empreender e Humanizar.

“Além de desenvolver estes conteúdos básicos e obrigatórios do currículo de cada ano, estamos trabalhando com estas competências, pois sabemos que para o mundo de hoje elas são extremamente necessárias”, explica Valderez. “O mundo exige inteligência emocional, solidariedade e até saber lidar com dinheiro. Se você tem conhecimento, mas não sabe como agir em determinada situação, não adianta nada”, afirma a diretora.

O IPEH surgiu a partir da análise dos resultados das avaliações externas das quais a escola participa anualmente, como o Saresp e o IDEB. “Os professores abraçaram na mesma hora a nossa ideia e estão participando”, comenta Valderez Soares.

O eixo Inovar está extremamente ligado ao empreendedorismo e quer ensinar a criança a pensar em algo que precisa ser criado no futuro para melhorar a vida das pessoas. O Poupar ensina os pequenos a saberem lidar com o dinheiro. “Estamos num mundo capitalista, as propagandas aparecem o tempo todo para as crianças e para todo mundo, então precisamos ensiná-las a serem críticas e avaliarem se eles realmente precisam daquilo que está sendo mostrado no comercial de TV, se vale a pena…”, explica a diretora.

O Empreender ensina aos alunos a serem proativos e protagonistas da sua própria vida, a serem persistentes e terem foco na superação dos obstáculos. Já o eixo Humanizar quer mostrar para elas a importância de ser cooperativo e solidário com as pessoas.

Todos os eixos são trabalhados em todas as classes do 1º ao 5º ano pelo menos uma vez por semana. Para trabalhar esses conteúdos os professores utilizam, por exemplo, os gibis “Turma da Mônica em Semeando Sonhos Empreendedorismo”, que levam para as crianças o estímulo a empreender. A cartilha foi distribuída a todos os alunos graças a uma parceria da escola com a OSCIP Confia Microfinanças e Empreeendedorismo, de São Paulo. O material foi produzido pela OSCIP em parceria com a Mauricio de Sousa Produções (MSP).

Outros materiais utilizados são as tirinhas do Portal “Meu Bolso Feliz”, do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), que fazem o aluno refletir; livros infantis como “A Menina, o cofrinho e a vovó”, de Cora Coralina; “O Menino e o Dinheiro”, de Reinaldo Domingos; a construção da árvore dos sonhos; e diferentes outros tipos de materiais, como a construção de cofrinhos utilizando garrafa pet.

Segundo a orientadora pedagógica Regina Ravanelli, uma mãe já procurou a escola para que fosse explicado à criança como funciona o cartão de crédito. “Muitos acham que se o pai tem cartão, ele tem dinheiro”, comenta. “Outro dia mostramos para eles a evolução de utensílios de cozinha, isto dentro do eixo Inovar. Mostramos como vários equipamentos foram melhorados com o passar dos anos e as novidades que surgiram”, contou a orientadora.

Professores engajados

Uma receita de feijão tropeiro na sala de aula do 2º ano A da E.M. “Sorocaba Leste” rende aprendizados não somente de português, matemática e história, mas também de educação financeira que serão utilizados para a vida toda destas crianças. A professora Camila Paixão foi a responsável por preparar a aula.

Nesta semana, por causa do aniversário de Sorocaba, a educadora está trabalhando a história da cidade. “Falei como surgiu o nosso município, a origem tropeira e escolhi trazer esta receita de feijão tropeiro para trabalhar com os alunos. Primeiro eles desenharam os ingredientes e o modo de preparo da receita; trabalharam com o gênero textual e depois veio a educação financeira”, explica Camila.

Sentados em grupos, com uma quantia de dinheiro em mãos, eles deveriam comprar os ingredientes em três supermercados fictícios. Para isso eles deveriam analisar o preço de cada item. “Eles analisaram quanto cada grupo gastou, qual o mercado era o mais caro; quais eram o produto mais caro e o mais barato. Foi uma série de perguntas para eles refletirem sobre o que eles consumiram, ou seja, trabalhamos com o eixo Poupar, além é claro da Matemática, Português e História”, salienta a professora.

Para a professora do 4º ano Cristiane Spin Souza, trabalhar com esta política pedagógica está sendo muito gratificante. “Não é um projeto que se limita à escola, é para a vida toda. As crianças conseguem absorver o conteúdo e eles vem apresentando resultados muito positivos. Fui resgatar temas antigos do ano passado e eles se lembraram de tudo e fizeram associações com situações do dia a dia”, afirma.

“Ontem, por exemplo, trabalhei com uma lição que tratou o eixo Humanizar, no qual trabalhamos com os valores para o capital humano como a solidariedade, a gentileza e a caridade. Coloquei situações do cotidiano e eles desenhavam e anotavam se achavam que eram situações cooperativas, ou seja, de convivência e amizade, como dividir o lanche com o amigo”, exemplifica.

A professora Cristiane ainda ressalta uma característica muito importante das crianças: o efeito multiplicador. “Em reunião com os pais, eles mesmos nos dão a devolutiva dos resultados deste projeto, relatando diversas situações vivenciadas fora da escola. Percebemos que as crianças são multiplicadoras, elas não guardam o conhecimento somente para elas, levam para a casa. Isso é demais.”

Multiplicadores de boas práticas

Téo Fernandes Miranda, de 7 anos de idade, aluno do 2º ano da E.M. “Sorocaba Leste”, é uma das crianças participantes do projeto. “Aprendi que tenho que comprar coisas mais baratas. Às vezes vejo coisas legais, mas tenho que ter responsabilidade. Se é caro a gente não pode comprar”, conta o garoto.

Ele tem economizado dinheiro e para isso conta com a ajuda de quatro cofrinhos. A poupança que ele está fazendo vai ser investida na sua festa de aniversário no mês de novembro. “Vou fazer uma festa e chamar todos os meus amigos”, adianta Téo. Ele também tem outro motivo nobre para poupar o dinheiro: ajudar o pai a terminar de construir a casa nova da família.

E Téo não para por aí. Ele já tem planos profissionais. “Meu sonho é ser um cientista e fazer uma fórmula para multiplicar a água para nunca faltar água no mundo”, conta.

A mãe Andreza Fernandes Miranda está muito feliz com o trabalho desenvolvido pela escola. “Acho muito bom ensinar as crianças desde pequenas sobre estes assuntos, porque ensinar depois de adulto é sempre mais complicado. Ele é criativo e muito interessado em documentários. Ele sempre quer criar alguma coisa para ajudar os outros”, conta a mãe orgulhosa.

Pedro, de 10 anos, está no 5º ano e também aprendeu direitinho os conceitos do IPEH. A mãe, Adriana Regina de Oliveira Poiato, conta que o garoto também economizou dinheiro e não pediu mais nenhum brinquedo até terminar de construir a casa nova. “Outro dia ele me deu R$ 10,00 para comprar a janela do quarto dele. Fui à loja junto com ele e usei o dinheiro que ele me deu. Mas é claro que ele ainda não tem noção do valor da janela. Estou achando tudo isto muito bom. Em seis meses construímos a casa e mesmo depois, com o meu marido desempregado, não tivemos problema. Não tem dinheiro, não compra. Simples assim”, argumenta.

Quem também está aprendendo com o projeto é Enrico de Paula, de 10 anos, aluno do 4º ano da escola municipal. “Acho muito interessante. Aprendo a respeitar as pessoas e que é muito importante o capital humano, utilizar o conhecimento e a inteligência para fazer o bem. Tem pessoas que usam o conhecimento para o mal, como o PCC”, explica o estudante.

O garoto também sabe o que quer ser quando crescer. “Estou guardando dinheiro para um dia abrir o meu restaurante, quero ser chef de cozinha”, afirma. “Tenho quatro cofres e acho fácil economizar. Tenho tudo o que eu preciso, não me falta nada”, afirma.

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