Mais de 12 mil estudantes em etapa de alfabetização são atendidos pela rede municipal

Por: Bruno Rodrigues
A alfabetização no processo escolar, desde a infância.

Além dos estudantes dos 1º e 2º anos, município capacita quase 400 alunos na Educação de Jovens e Adultos, em 12 unidades.

 No último domingo, 8 de Setembro, foi comemorado o Dia Mundial da Alfabetização. Nessa importante etapa de ensino, Sorocaba conta atualmente com 11.850 estudantes do 1º ao 2º ano; crianças na faixa etária entre 6 e 7 anos e que ocupam cadeiras das escolas municipais.

Mas o olhar voltado à alfabetização ainda contempla um outro grupo. São aqueles jovens e adultos que, por qualquer razão, não conseguiram terminar seus estudos no período correspondente à idade e, agora, buscam o conhecimento por meio do EJA (Educação de Jovens e Adultos). Segundo a Secretaria da Educação (Sedu), são mais 367 alunos sendo alfabetizados em salas de doze unidades educacionais.

A professora Fabíola de Carvalho Jardim que cuida dos estudantes do EJA da  EM. “Prof.ª Maria de Lourdes A. de Moraes”, conta que essa etapa do ensino traz muitos benefícios práticos aos estudantes. “A alfabetização determina o acesso à comunicação por meio da leitura e da escrita. A partir dela, as pessoas podem adquirir, cada vez mais, novos conhecimentos, aumentando as possibilidades não apenas em relação ao mercado de trabalho, a uma ascensão econômica, mas também na aquisição de mais autonomia ao exercerem seus direitos e deveres enquanto cidadãos”, enfatiza comentando que a cidadania é construída a partir do momento em que se possibilita desde a leitura de uma simples receita, ou uma bula de remédio, ao acesso às leis que regem o país.

Para a educadora, o trabalho desenvolvido com os adultos possibilita uma grande transformação em suas vidas.  “Permitir o acesso a uma educação de qualidade é mais do que garantir um direito constitucional. As novas tecnologias estão avançando cada vez mais e, ser alfabetizado nos dias de hoje, significa ter acesso a diferentes maneiras de se comunicar e de viver em sociedade. A leitura e a escrita proporciona um riquíssimo leque de possibilidades na maneira de enxergar o mundo e na participação das transformações da sociedade”, pontua Fabíola.

No outro extremo, ainda na primeira infância, que se estende até os seis anos, a alfabetização traz uma grande influência sobre percurso escolar das crianças. De acordo com o professor e Gestor de Desenvolvimento Educacional da Sedu, Gilmar Piccin, o processo de alfabetização ditará o futuro do estudante. “Quando o aluno não aprende a ler e escrever, ou realiza essa etapa de modo precário, sua trajetória escolar pode ficar comprometida, refletindo em reprovação e até em abandono escolar”, assegura. Piccin considera que Sorocaba tem se dedicado com muito cuidado e empenho para promover um processo de alfabetização de qualidade a todos os seus estudantes, “com sentido e significado”, completa.

Neste sentido, ele destaca a importância da formalização quanto ao aprendizado na alfabetização. “É fundamental que o jovem ou adulto que não teve acesso à educação formal ingresse na EJA. Pois, mesmo que ele já saiba ler e escrever poderá ampliar seus conhecimentos, ser certificado formalmente e, consequentemente, prosseguir com seus estudos. Isto só é possível ao ingressar em uma escola com professores capacitados e remunerados para isto”, salienta o gestor.

EJA e suas histórias

Uma sala com estudantes da EJA apresenta muitas histórias. É o caso da baiana, Judith Lopes dos Santos, de 78 anos.  Quando criança ela não pode ir à escola porque teve que trabalhar na roça para ajudar no sustento da família com cinco filhos. Hoje, aposentada, resolveu voltar a estudar e fica feliz com cada letrinha nova que aprende. Ela prometeu ao marido que só sairá da escola quando se tornar professora.

Em uma situação semelhante, a pernambucana, Maria Nascimento, de 69 anos, é uma das oito mulheres num total de 14 irmãos. Desde muito nova teve que trabalhar na roça até a vinda ao Paraná com 10 anos e, posteriormente, a São Paulo. Mãe de cinco filhos e quatro netas, ela se viu em depressão quando o caçula saiu de casa, já que os demais estavam casados. Maria enxergou na escola uma saída para não adoecer. Estuda há três anos e fica com lágrimas nos olhos toda vez que consegue ler. Ela conta emocionada que a sua primeira leitura foi de uma caixa de leite. “A EJA é uma benção de Deus na minha vida, me sinto maravilhada pela oportunidade de ter acesso à escola”, comemora.

Sua conterrânea, a dona de casa Marta Junia da Silva, de 42 anos, também tem história para contar. Aos 11 anos teve que sair da escola para cuidar das irmãs mais novas e a dificuldade para continuar na rotina de estudos prorrogou seu retorno à cadeira escolar. “Eu via o sofrimento de toda a família por causa do alcoolismo do meu pai, minha mãe teve que sustentar sozinha a família de quatro filhas trabalhando como gari. Devido à situação que vivíamos, inclusive a de violência doméstica que minha mãe sofria, infelizmente ela também começou a beber, foi então que a situação piorou”, lamenta.  Hoje, casada, mãe de duas filhas e avó de um menino, Marta resolveu retomar os estudos. Determinada a escrever uma nova história, afirma que só sairá da escola com diploma de enfermeira.

Receita para nova vida

A faxineira paranaense, Janira da Silva Gonçalves, de 53 anos, relembra a infância onde os afazeres com sua casa, e que determinavam o atraso diário na escola, a obrigaram a parar os estudos.  Casada, mãe de quatro filhos e avó de quatro netas, ela conta que a EJA foi de extrema importância para melhorar de vida. “Resolvi voltar a estudar quando meu patrão pediu para eu ler uma receita e não consegui. Agora já leio e escrevo”, celebra.

Diferente do ensino regular, a Educação de Jovens e Adultos requer uma especialização diferenciada por parte dos educadores. Para a professora Fabíola, é um desafio trabalhar com a EJA. Segundo ela, a diversidade em uma turma de alfabetização de jovens e adultos é gigantesca. Parte dos estudantes que não teve acesso à educação básica quando criança, principalmente, por viverem em condições precárias e terem que escolher entre a escola e o trabalho que sustenta a família, e até por questões históricas sociais e de preconceito. “As razões são muitas, mas de um modo geral as histórias convergem. E ainda há a condição de muitas mulheres afetadas historicamente pelo machismo e que foram proibidas de chegar à escola, primeiro, pelo pai e, depois, pelo marido”, conta.

Daí, acredita, a missão de ser professora na Educação de Jovens e Adultos requer um olhar e uma abordagem diferenciadas, em comparação ao ensino das crianças. Fabíola considera estrutural o quanto os aspectos da história e da bagagem da vida dos estudantes adultos devem ser levados em consideração. “É uma área que necessita de uma atenção especial. Para que os resultados sejam cada vez mais concretos, é de extrema importância que esta modalidade de ensino seja uma prioridade presente no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, além da reflexão crítica sobre o próprio currículo”, pondera a educadora.

Nesse caminho, a professora Fabíola acredita que está nas mãos do Poder Público e das instituições de ensino a grande responsabilidade na trajetória escolar desses estudantes que, muitas vezes, tiveram o direito ao acesso à educação negligenciado. “Ao olhar o cenário educacional do Brasil, muito foi feito, mas ainda há muito a se fazer, principalmente na formação dos professores. Por isso, o papel dos educadores é fundamental e eles devem ser valorizados, cada vez mais e sempre”, completa.

 

Inscrições da EJA

As inscrições para a EJA, na etapa inicial do Ensino Fundamental do 1º ao 5º anos, funcionam durante todo o ano letivo. Os interessados podem procurar qualquer unidade municipal mais próxima de suas casas para serem atendidos. Em seguida, serão direcionados para uma escola que atenda ao programa. Os documentos necessários para a inscrição são: RG, CPF e comprovante de residência.

Veja abaixo as unidades contempladas com a modalidade EJA:

CEI-28 “Rauldinéia Esteves Machado” – Rua Alcino Oliveira Rosa, 267 no Pq. São Bento;

  1. “Prof. Ary de Oliveira Seabra” – Rua João Granado, 45 no Cajuru do Sul;
  2. “Prof.ª Darlene Devasto” – Rua Ary Annunciato, 208 no Jd. Atílio Silvano;
  3. “Éden” – Rua Salvador Leite Marques, 1030 no Éden;
  4. “Prof.ª Inês Rodrigues Cesarotti” – Rua José Trugillano, S/N no Jd. Bonsucesso;
  5. “Prof. Irineu Leister” – Rua Odete Nanci Giraldi, 67 no Jd. Ipiranga;
  6. “Prof.ª Léa Edy Alonso Saliba” – Rua Miguel Stefani, S/N no Jd. Marcelo Augusto;
  7. “Prof.ª Maria de Lourdes A. de Moraes” – Rua Vicente Miranda, 300 no Santa Marina;
  8. “Prof.ª Maria Ignez F. Deluno” – Rua Rubéns Peline, 156 no Mineirão;
  9. “Dr. Milton Leite de Oliveira” – Rua Antônio Moreira da Silva, 248 no Brig. Tobias;
  10. “Prof.ª Renice Seraphim” – Rua Iolanda de Carvalho, 160 no Carandá;
  11. “Ronaldo Campos de Arruda” – Rua Luiz Almeida Marins, 275 no Jardim Josane.