Quem compareceu na manhã desta quarta-feira (dia 27) ao primeiro dia do Seminário “Memória e Herança Sorocabana” pôde conferir uma aula sobre o tropeirismo, ministrada pelo historiador e jornalista Sergio Coelho, na Sala Fundec. Com imagens fotográficas, mapas, citações de livros de historiadores e muitas curiosidades, os participantes do encontro puderam conhecer, com riqueza de detalhes, uma época que foi tão importante para o município de Sorocaba.
Promovido pela Prefeitura de Sorocaba, por meio do Núcleo de Formação Cultural da Secretaria da Cultura (Secult), o seminário é gratuito e faz parte da programação da 10ª Tropeada Caminho das Tropas. As atividades prosseguem até sábado (30).
“Tropeirismo não é folclore, moda de viola ou uma cavalgada. Foi um ciclo econômico e a solução colonial para a questão do transporte no Brasil. Sem as mulas, nosso País teria andando mais devagar”, destacou o palestrante. “E Sorocaba já existia quando a primeira tropa chegou à cidade. O correto é dizer que o nosso município se desenvolveu no tropeirismo”, salientou Sergio Coelho.
O historiador abordou o tema desde o início, na época de 1700, quando o bandeirante Bartolomeu Paes de Abreu sentiu a necessidade de abrir caminho entre o Sul do país e São Paulo, para o escoamento das tropas de burros e cavalos para atender as necessidades de outras regiões do País. “Porém, quem abriu a primeira estrada foi Francisco de Souza Faria, em 1727, saindo do Morro dos Conventos, em Santa Catarina, na divisa com o Rio Grande do Sul, chegando a Curitiba. Já quem assumiu o compromisso de fazer a primeira viagem foi Cristovão Pereira de Abreu, em 1731, se tornando o primeiro grande tropeiro da história do Brasil”, declarou Sergio Coelho.
Cristovão partiu da região de Viamão em direção a Minas Gerais, levando três mil animais e 130 tropeiros, passando por Sorocaba somente em 1733. “Essa passagem por aqui foi um acontecimento. Não há documentação que comprove o pouso em Sorocaba, mas acredito que isto ocorreu, pois a região era propícia para isto, o clima era agradável”, comentou.
Outro fato abordado no encontro foi a criação do Registro de Animais em Sorocaba, em 1750, pelo Rei Dom João VI. “Cada animal que passasse por aqui teria que pagar um tributo – como um pedágio”, contou. O dinheiro era enviado à coroa portuguesa e ao terceirizado que fazia este pedágio. O Registro de Animais foi se tornando o centro do tropeirismo e aí que surge a Feira de Muares, um ponto de encontro do norte do Brasil para comprar e do Sul para vender os animais. Em 1832, 21.147 animais passaram por Sorocaba. Já em 1860 foram 61.968 animais, sendo cinquenta mil apenas de muares.
A Feira de Muares foi o elemento mais importante para Sorocaba. “O Brasil inteiro falava desta feira, que era a maior do País e ocorria três meses por ano. E ela ocorreu espontaneamente. Nos outros meses do ano eram produzidas redes, facas, peças de montaria, entre outras, para comercializar com os visitantes na próxima Feira de Muares”, destacou o palestrante.
Sergio Coelho também falou sobre a viagem difícil feita pelos tropeiros que percorriam um trecho de 1.500 km, trajeto que cumpriam de sessenta a setenta dias se tudo ocorresse bem, sem muita chuva e sem nenhuma doença. A viagem era feita com cerca de oitocentas mulas selvagens.
Ele também deu detalhes sobre as vestimentas dos tropeiros e da alimentação, e desmentiu algumas histórias como a de que os tropeiros bebiam pinga todos os dias. “A viagem era feita com muita disciplina. A pinga era levada e ficava com o capataz, sendo servida apenas quando estava muito frio ou chovendo, para esquentar os homens da tropa”, explicou. Por último, o historiador falou sobre a rota tropeira.
A artista plástica e professora de desenho Flavia Antunes Aguilera, moradora do Central Parque, compareceu ao primeiro dia do seminário e ficou encantada. “Vim aqui porque sempre tive preconceito com a história do tropeiro, achava que era bobagem. Hoje em dia, como estou mais interessada pela história de Sorocaba, me interessei em participar do seminário e adorei, achei muito interessante e pretendo me aprofundar mais no assunto”, elogiou.
Palestras e bate-papo até sexta-feira
Nesta quinta-feira (28), será a vez do jornalista e historiador Geraldo Bonadio falar sobre “Feira de Muares e Registro”. Para finalizar as palestras, no dia 29, a doutora em arquitetura Lucinda Ferreira Prestes falará sobre “Herança Tropeira”. Todas as palestras têm início às 10h30.
Ainda na sexta-feira (29), às 19h, será a vez dos jornalistas Renato Biazzi (Rede Globo) e Laura Vieira (TV Tem) conversarem com o público sobre a experiência na produção e reportagem da série “Caminho das Tropas”, na qual os dois refizeram o caminho dos tropeiros do Rio Grande do Sul a Sorocaba. O bate-papo ocorre também na Sala Fundec.
De acordo com o Núcleo de Formação Cultural da Secretaria da Cultura, as inscrições para as palestras e o bate-papo são abertas e podem ser feitas no dia, uma hora antes dos eventos, na Sala Fundec, localizada na Rua Brigadeiro Tobias, 73, no Centro.
Passeio pela rota tropeira no sábado
No sábado (30), os sorocabanos ainda poderão participar de um passeio pela antiga rota tropeira no Centro de Sorocaba, a partir das 9h. Guiados pelo historiador José Rubens Incao, coordenador da Biblioteca Infantil, os participantes vão passar pelas principais ruas do Centro de Sorocaba por onde passava a rota tropeira. A saída do passeio acontece próximo à Praça 9 de Julho, em frente à Casa das Mães.
As inscrições para o passeio podem ser feitas até sexta-feira (29), das 9h às 16h, pelo telefone (15) 3211.2911. As vagas são limitadas.
Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail do Núcleo de Formação Cultural: nfc@sorocaba.sp.gov.br